EJA do Sesi MT transforma vidas de jovens e adultos que sonham com futuro promissor

Os 45 anos que Francisca Duarte passou longe da escola não foram suficientes para enterrar o sonho de concluir os estudos. Prestes a completar 60 anos, ela finalmente conquistou o tão desejado diploma do ensino médio e agora se prepara para trilhar um novo caminho após se formar pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Serviço Social da Indústria (Sesi MT), em Várzea Grande.
A cerimônia de formatura ocorreu na última sexta-feira (01.08) em uma noite inesquecível para 50 alunos da EJA de do Sesi VG. Emocionada com a conquista, Francisca lembra que sua trajetória não foi fácil. Ainda quando menina, com 14 anos, perdeu a mãe e foi morar com os tios. Na nova casa, a pequena órfã foi forçada a cuidar dos afazeres domésticos até ficar exausta. Assustada e decidida a fugir daquela realidade, ela conheceu um rapaz e resolveu morar com ele. Teve uma gravidez precoce e precisou parar os estudos.
Décadas depois e com sete filhos “já bem encaminhados”, Francisca viu na EJA do Sesi MT a oportunidade de reacender um sonho adormecido: terminar os estudos e conquistar um emprego melhor. “Hoje estou feliz, realizada, trabalhando em uma farmácia. Atualmente, para ganhar melhor, é preciso ter estudo, e eu sempre desejei isso”, conta. Ela já iniciou o curso técnico em Farmácia.
Entre os formandos também estava Jadilson Dias de Souza, 47 anos, auxiliar de cozinha. A dificuldade financeira o afastou das salas de aula ainda na infância, aos 12 anos, quando precisou ir às ruas vender picolés e salgados para ajudar em casa. “Depois trabalhei como taxista de lotação. A vida já não era fácil. Eu não tinha mãe e acabava de perder meu pai, então precisava trabalhar”, lembra.
Jadilson até tentou retornar à escola, mas esbarrou na falta de documentação e a dificuldade de conciliar a rotina com o trabalho o impediram de avançar para além da 5ª série. Em 2024, amigos o encorajaram a fazer a EJA do Sesi MT e ele mergulhou de cabeça nessa empreitada. “Sinto um misto de alegria e satisfação. Estou com muito orgulho de mim pois só eu sei que não foi fácil. Isso prova o quanto eu batalhei para chegar aonde estou. Agradeço a Deus e a todos que participaram desse processo junto comigo”.

planeja um futuro de conquistas
Acolhimento que faz diferença
Mais do que incentivar alguém a voltar a estudar, é preciso acolher, ouvir e apoiar. Essa rede de apoio faz toda a diferença para quem está em processo de reconstrução. Foi assim com Ana Paula Pedroso, mãe de quatro filhos e atualmente auxiliar de limpeza.
Durante anos, ela enfrentou conflitos familiares, relacionamentos abusivos e crises profundas que a afastaram de seus objetivos. “Passei por fases em que eu não me reconhecia mais. Me sentia incapaz, sem expectativa de vida, sem enxergar possibilidades”, relembra.
A virada veio aos 33 anos. “Foi um recomeço. Hoje eu me visto bem, tenho autoestima, tenho fé, tenho sonhos. Me sinto uma mulher grande, forte, realizada. Não foi no tempo que eu queria, mas foi no tempo certo. Nunca é tarde para ser quem a gente nasceu para ser”, afirma Ana, com orgulho.
.jpg)
profundas afastaram Ana Paula de seus objetivos, mas
agora ela comememora uma nova fase em sua vida
Casais inteligentes estudam juntos
Já ouviu dizer que casais inteligentes enriquecem juntos? Para Lucimara da Silva, 22, e Junior Inácio, 27, o lema tem uma nova versão: casal inteligente estuda junto. Além de dividirem a vida, eles também compartilharam a sala de aula e a experiência de retomar os estudos. “Tenho a sensação de dever cumprido e muita alegria por conquistar uma oportunidade de emprego melhor, se mais reconhecido no mercado de trabalho”, destaca Junior, que saltou de um emprego mal remunerado para outro melhor. Hoje ele é bombeiro civil de aeródromo.
Há dois anos, os pombinhos apaixonados saíram do interior de Pernambuco com a filha no colo, apenas com a passagem de ida, bagagem em mãos e um sonho no peito: novas oportunidades de trabalho e qualidade de vida. No caminho, eles encontraram muitas portas fechadas e entenderam que só iriam atingir o objetivo se voltassem a estudar.
“Meu esposo começou a EJA primeiro e me incentivou a fazer também. Foi um período incrível de preparação para o meu futuro, onde conquistei novos conhecimentos e habilidades que moldaram minha trajetória rumo à vida adulta. Estou muito feliz por todas as superações ao longo desse caminho”, celebra a jovem.
Cerimonia inesquecível
A cerimônia de formatura dos alunos da EJA reuniu representantes do Sesi. Estavam presentes o superintendente regional do Sesi MT, Alexandre Serafim, a gerente do Sesi Escola Várzea Grande, Pollyana Coelho, e lideranças da unidade de ensino. “Este é um momento único na vida desses jovens e adultos. A partir de agora, eles abrem um leque de possibilidades, podendo ingressar em cursos profissionalizantes e ensino superior. Ficamos felizes em contribuir para essa conquista”, diz Alexandre.

Pernambuco em busca de novas oportunidades em MT
Atualmente, a unidade de VG tem 395 alunos em sala de aula em busca de elevação escolar. Em todo estado, o Sesi MT registou em 2024 um total 5 mil jovens e adultos estudando nas unidades de Cáceres, Sinop, Rondonópolis e Várzea Grande. Somente neste ano, o Sesi já formou mais de 230 alunos que agora vão em busca de elevação salarial a partir da educação. “Por trás desses diplomas, estão histórias de pessoas que superaram inúmeros desafios, como traumas, rejeição, abusos, dificuldades financeiras. E hoje elas estão aqui, celebrando uma nova página em suas vidas”, pontua Pollyanna.

50 jovens e adultos
Agilidade e eficiência
As aulas do Sesi são gratuitas, têm uma abordagem moderna e flexível, possibilitando a conclusão dos estudos entre três meses e um ano, a depender da dedicação do discente. Essa rapidez ocorre porque a instituição utiliza o método de reconhecimento de saberes, mecanismo reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação, que avalia as experiências dos alunos a partir de suas vivências, eliminando assim algumas matérias que seriam cursadas, tornando o curso mais ágil.
Além disso, as aulas são no formato híbrido, ou seja, a maior parte acontece online, e o aluno só precisa ir presencialmente uma vez por semana. Isso facilita muito pra quem trabalha ou tem uma rotina mais corrida. O foco é oferecer uma educação de qualidade, acolhedora e que respeita o tempo e a história de cada um.
Texto: Fernanda Nazário
Foto: Emerson Oliveira e Adrielly Queiroz